S - T

Tales de Carvalho





Thales de Carvalho

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Irmã Angústia e irmão Martírio

Inevitável
nossos olhares
se cruzarem
interminável
esse martírio
tantas vezes conduzindo nossas vidas
díspares
irmã Angústia
aonde você me jogou
esse beco
sem solução
encostado à parede
fumando
nossas vidas dissolutas
quantas tramas
armou
nosso destino
fracassado
humilhação
é um codinome
para não posso mais
nenhum pouco cortês
tudo malogrou
e o poema
coitado
relegado
a uma simples carta
de suicídio
desfaz-se
folha de papel
em cinzas.


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Cotidiano

O café esfria
sobre a mesa.
Ela está perdida
há muito.
Traições.
Neutra,
fitando o café sobre a mesa,
uma lágrima
escorre
pelo seu rosto impávido.
O cigarro aceso em sua mão.
A fumaça, densa, percorre
a sala.
No chão,
um cadáver
com uma faca sobre o peito
esfria.


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Réquiem para Amy Winehouse



Caíste tantas vezes...
no entanto, tua última
queda te foi fatal.



Caíste para nunca
mais abrir os olhos.
Caíste para nunca
mais voltar.
Caíste para nunca
mais...


Amy, Amy, Amy,
somente percebemos
que somos felizes quando deixamos de ser.
Nossa felicidade era uma noite,
e nunca mais.
Na noite seguinte tudo se repetia,
os apetrechos fora de moda.


A eternidade te cai bem,
teu jeito trágico de viver, o vício fora de época,
e a voz que refletia tua tristeza.
(que é a minha também)


Teu blues contém
meu jeito blue de ser,
algo um tanto mórbido,
quanto sofisticado e estúpido.


Nós éramos...
Deixamos de ser...
Bye, bye, baby blue.


The dady’s girl com nobody’s child,
uma equação complicada
e mal resolvida.
Agora para sempre.
Tears dry on their own.


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Metapoema

Estou cansado,
farto de tudo e de todos.
Todos choram.

A multiplicidade de eus

contida em mim;

todos suicidas.

Maníacos depressivos,

compulsivos,

obsessivos.

Todos procurando

um fim.


 

Minha matéria,

os insondáveis

seres que estão em mim.

Não quero saber do lirismo

que não é confissão.

Quero antes a expiação

das palavras

nas palavras;

o meu ser infinitamente inconseqüente,

intransigente,

insaciável,

incurável,

exposto,

nu,

nas linhas medíocres

de um pedaço de papel.


 

O resto

para mim não será lirismo.

Será o resto,

apenas resto.


 

Quero a purgação dos sentimentos.

Meus sentimentos.

O lirismo que se dobra, se desdobra sobre mim,

e me esmaga!


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Síntese



Eu queria

mas não deu

fica pra uma próxima

vida.

 

Tantas encarnações

como fantasmas

em mim.

 

 

Idílios

 

promessas, esperanças

de uma possível vinda,

um encontro fortuito

em um cais abandonado

sob o luar

e todo céu estelar,

o som das ondas quebrando,

nosso encontro embalando,

o mar a areia beijando,

nossas palavras lascivamente

conduzindo nossas carícias

lúbricas

-todo esse paraíso

aqui na praia-

nossos corpos se aconchegando,

a brisa marítima tentando

apagar a chama em nossos corpos

-em vão-

repletos de desejo

mútuo.

ai

ah

oh

Tudo ilusão!

 

 

Carta de adeus

Olhar para trás,

saber-se distante

de um pretérito

mais que perfeito

e não ter nada

adiante de si,

lúgubre futuro;

sem perspectivas ou imagens,

largar-se, como os suicidas,

ao nada.

-a separação de uma vida-


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À alguém que hoje é ninguém para mim, a não ser uma lembrança distante

Tudo bem

você não quis

me dizer

o que aconteceu conosco

nem eu saberia

dizer

O passado

é um tempo morto

que não ousamos

revisitar...

Pudera

é tudo lindo

nas lembranças

que se transformam

em irrealidades utópicas

simples aparências

de desejos

reprimidos

de sonhos

irrealizados

-quanta Quimera no ar, pelas estrelas-


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Algemas



 

Íamos

lado a lado

no carro

 

íamos

na mesma direção

cada vez mais perto

cada vez mais perto

cada vez mais perto

do fim

 

mesmo que quiséssemos

não poderíamos nos apartar

não

naquelas circunstâncias

 

juntos tínhamos

que seguir

lado a lado

no carro

 

irônicas

algemas

mantinham-nos

juntos

pela última vez

 

juntos

algemados

entretanto

logo adiante

separados

ainda agora

separados

nunca mais

 

as algemas

irônicas

e todo horror de recordar aquele dia fatídico

as algemas irônicas

e toda dor da saudade que corrói o espírito

 

os elementos

todos

urram pela sua ausência,

a falta calada dentro do peito.

 

a noite esgarça

o coração oprimido

e tudo termina

em silêncio

 

as algemas irônicas

no quadro do tempo

são apenas uma recordação

longínqua

mas como urgem.


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Idílios

promessas, esperanças
de uma possível vinda,
um encontro fortuito
em um cais abandonado
sob o luar
e todo céu estelar,
o som das ondas quebrando,
nosso encontro embalando,
o mar a areia beijando,
nossas palavras lascivamente
conduzindo nossas carícias
lúbricas
-todo esse paraíso
aqui na praia-
nossos corpos se aconchegando,
a brisa marítima tentando
apagar a chama em nossos corpos
-em vão-
repletos de desejo
mútuo.
ai
ah
oh
Tudo ilusão!


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Carta de adeus
Olhar para trás,
saber-se distante
de um pretérito
mais que perfeito
e não ter nada
adiante de si,
lúgubre futuro;
sem perspectivas ou imagens,
largar-se, como os suicidas,
ao nada.
-a separação de uma vida-
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